O Manifesto #MeninasDecidem traz as perspectivas de adolescentes por uma educação pública de qualidade

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A Rede de Ativistas pela Educação do Fundo Malala no Brasil reuniu meninas de todo o país para elaborar um manifesto com as prioridades das estudantes para a educação. Endossado por Malala, o documento traz as perspectivas para educação de meninas negras, periféricas, indígenas, quilombolas, trabalhadoras do campo, trans, travestis e com deficiência.

Somos meninas. Somos negras, somos quilombolas, somos indígenas, somos do campo e das florestas, das periferias e favelas das cidades. Somos meninas trans e travestis, somos meninas com deficiência. Estamos em escolas sucateadas e em transportes lotados, estamos nas ruas e nas vielas, nas ocupações e nas marchas, estamos nas redes virtuais e nas territoriais. Muitas garotas passam fome e enfrentam a violência de gênero neste momento. Carregamos a força das ancestrais e uma história de lutas e de resistência. Somos a geração do presente e também somos o futuro. Somos guerreiras e somos cuidadoras. Não somos silenciosas, fomos silenciadas. Não seremos mais caladas. Este é nosso grito.

A educação brasileira implora por socorro, agoniza por vida, sofre com tantos ataques: dos cortes de recursos à censura.

A pandemia escancarou o que há muito tempo já se discutia dentro de movimentos sociais: a superlotação dentro dos transportes – quando disponíveis –, a falta de acesso à internet e a equipamentos, a miséria que faz com que seja na escola que muitos encontram sua única refeição, professoras sobrecarregadas e com baixos salários. Também ressaltou a necessidade de um ensino voltado às nossas origens e ancestralidades africanas, afro-brasileiras e indígenas que a colonização nos roubou.

A educação como conhecemos hoje é sustentada por um fio ou por uma corrente de mãos das de pessoas que ainda acreditam ser possível construir uma educação acessível e plural, mesmo estando inserides nessa realidade de constantes cortes e sucateamento dessas escolas. A educação veio da luta da população. Conquistamos esse direito graças à luta e, graças à educação, temos mais pessoas para continuar lutando. Guerreiras formam a educação e a educação forma guerreiras.

Quando dizemos escolas, nos referimos ao ensino público, que educa es filhes des trabalhadores, que estão na base e à margem da sociedade. Muitas de nós não temos sequer acesso a esses espaços públicos de educação. Muitas somos expulsas das escolas, ferindo o que determina a Constituição e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que garantem por lei o direito à educação para todas, todes e todos. Aqui nos referimos a travestis e mulheres trans, que têm seu acesso aos espaços escolares negado a partir do momento em que pisam na escola, porque sabem que vão ter suas identidades desconsideradas e serão constantemente violentadas. Aqui nos referimos também às pessoas com deficiências, às crianças, adolescentes e jovens negros, indígenas, quilombolas e do campo e tantos outres neste país tão desigual.

Precisamos pensar na infraestrutura das escolas secundaristas espalhadas pelo Brasil. É extremamente problemática a ideia de “jogar” jovens e adolescentes dentro dessas escolas que mais parecem prisões, cercadas de grades e portões gigantescos, que os segregam entre si, onde não é ensinada a diversidade de povos e culturas, tendo uma base curricular eurocêntrica, em detrimento dos saberes produzidos nas próprias comunidades. Será que escolas assim podem preparar jovens para o ensino superior e para o mundo do trabalho? Será que essas escolas podem estimular o senso crítico e a cidadania de jovens? Será mesmo que essa é a educação que queremos para o presente e para o futuro?

É de suma importância explicitar quais corpos sofrem mais dentro desses ambientes. Entre eles, estão pessoas trans e travestis, outras pessoas pertencentes ao movimento LGBTQIAP+ (principalmente as racializadas), pessoas indígenas, quilombolas, trabalhadoras do campo, ou seja, todos cor-
pos que são historicamente marginalizados. Pessoas com deficiência são estigmatizadas em nossa sociedade e tem gente que quer aumentar ainda mais a segregação, impedindo-as de frequentarem as mesmas escolas.

A educação ocupa um papel importantíssimo para o desenvolvimento de um país. Queremos outro modelo de desenvolvimento, que coloque o cuidado com as pessoas e com a natureza em primeiro lugar. Sonhar com uma educação que seja plural e acessível é fundamental, porque é impossível chegar a algum lugar que não tenha sido sonhado anteriormente. Entre as pessoas que sonham uma educação diversa e popular, principalmente para as meninas, é possível destacar Malala, que defende incansavelmente o direito de meninas e mulheres estudarem ao redor do mundo todo.

Existem experiências em outros países que podem nos inspirar, assim como em nosso país. Podemos aprender com a luta das populações indígenas e quilombolas pelo direito à educação escolar diferenciada, que respeite seus modos de vida, sua concepção de educação como um processo que se dá nas relações comunitárias e no vínculo com os territórios. Porém essas escolas sofrem com condições cada vez mais precárias de funcionamento.

É extremamente importante que a escola pública, sendo um grande pilar para o sistema educativo, seja uma prioridade “pra valer” para o Estado e para a sociedade. Não apenas garantindo o ensino das matérias, mas a qualidade desse ensino. O próprio sistema educacional precisa ser educado, para pensar no social. Confundem educação com escolarização e qualidade de ensino com simples testes de aprendizagem: não querem criar pensadores, mas máquinas de trabalho; matam os sonhos de seus alunos para alimentar uma sociedade onde o mercado dita as regras do “jogo”. Vivemos uma profunda crise, isso é inegável. Os retrocessos autoritários que estamos vivendo com a implementação do novo ensino médio, os cortes na educação, a evasão escolar e os impactos da pandemia e da violência contra a população negra, indígena e pobre, tudo isso contribui para que mais jovens e crianças sofram e percam a motivação e a esperança, tendo seus sonhos atropelados.

Por isso temos que agir! Se quisermos mudar o Brasil, que comece pela educação!

Queremos uma educação plural que ande lado a lado com as professoras e os professores, que os valorize, que pague salários dignos. Queremos equiparação salarial para os professores indígenas e quilombolas que recebem menos, mesmo tendo a mesma formação. Que as escolas do campo, das florestas e das periferias tenham toda a estrutura, materiais de apoio, dignidade e qualidade de ensino. Que a educação seja libertadora, com múltiplas formas de ensinar e aprender, que escute ativamente os estudantes em sua diversidade de sofrimentos, propostas e sonhos.

Queremos uma educação antirracista, anti-capacitista, anti-machista, anti-LGBTQIA+fóbica, destacando a necessidade de dar fim ao sofrimento gigantesco imposto às pessoas trans e travestis. Que ensine sem preconceitos e estereótipos a história e a cultura dos povos indígenas e afro-brasileiros, em cumprimento à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional alterada pelas Leis no 10.639/2003 e 11.645/2008. Que apoie as mães estudantes, tendo em vista que a falta de suporte e de compreensão expulsa da escola adolescentes e jovens que engravidam. Que garanta o bem-estar dos alunos na escola e no trajeto até ela. Que prepare os alunos para a vida adulta e para o ensino superior, que a escola possa se adaptar às diferentes realidades. Que fortaleça as universidades públicas e amplie as cotas e as políticas de ação afirmativa, garantindo condições efetivas para a permanência de estudantes negros, indígenas, quilombolas, com deficiência, periféricos e do campo, trans e travestis na educação superior.

Defendemos uma educação que inclui e não exclui. As pessoas com deficiência não “atrapalham”, como dizem alguns. Uma educação inclusiva, que se atente às especificidades de cada uma sem excluir ninguém, beneficia a todes. A educação inclusiva passa pela acessibilidade, pelos recursos materiais e tecnológicos, mas também pela superação dos preconceitos e dos moldes capacitistas que são incapazes de perceber as potências de cada estudante. E é dessa forma, com esse sistema que podemos criar uma sociedade melhor e, consequentemente, um Brasil melhor.

“A educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas mudam o mundo”. Paulo Freire, patrono da educação brasileira

O que precisa ser prioridade no país para efetivarmos o direito à educação de qualidade?

O debate sobre educação muitas vezes aparece invertido. Em geral, temos a política de educação se submetendo à verba “disponível”, sempre insuficiente. Historicamente, o dinheiro do povo é drenado para as elites. Mas deveríamos começar nos perguntando: que educação queremos (e precisamos) construir e para quem? Partir disso para definir os recursos necessários – que existem – e que sejam distribuídos de forma a enfrentar as desigualdades, ou seja, fazendo com que cheguem mais aonde sempre chegaram menos – caso das escolas indígenas, quilombolas, das periferias urbanas e do campo – e, assim, reparar parte da dívida histórica do Estado brasileiro com suas populações mais violentadas e oprimidas.

A prática da educação que temos continua privilegiando os mesmos de sempre, desde a colonização. Diante de tantos problemas e desafios, as juventudes feministas, negras, indígenas, quilombolas, periféricas e do campo, LGBTQIAP+ e com deficiências se unem para ocupar as universidades e escolas todos os dias, para pintar a educação de povo. Nossas lutas são plurais por uma educação democrática e participativa, que sirva à emancipação do nosso povo, das meninas e mulheres espalhadas pelo nosso país. Essa ocupação traz consigo o povo e a comunidade para tomarmos juntes o lugar de estudar e termos o direito de sonhar e realizar.

Precisamos nos mover!

Precisamos começar a olhar o nosso povo como caminho para a construção de políticas públicas efetivas que quebrem a opressão do elitismo e embranquecimento que ainda nos rondam. Quem está decidindo a educação do nosso país são homens, brancos, heteros, cis e ricos, que nunca sequer vivenciaram a situação precária da educação pública. O futuro que eles arquitetam é de continuar privilegiando somente a eles. Mas a educação é PÚBLICA e temos o nosso direito de sermos doutoras e doutores. Precisamos nos mover e nos perguntar: o que fazemos pelo presente das meninas? Meninas negras, indígenas, quilombolas, LGBTQIAP+, meninas trans e travestis, meninas com deficiência, periféricas e do campo, para assim construirmos um futuro no feminino.

A educação que eles constroem é para quem?

Para efetivar o direito à educação de qualidade precisamos quebrar o modelo de “reformas” que vêm de cima para baixo. Precisamos transformar as reformas estatais em intervenção popular, que não forme apenas trabalhadores reféns da exploração capitalista e sim pensadores críticos, que não reduzam seu potencial a apenas uma profissão “bem remunerada”. Que os estudos alimentem uma dignidade sem depender de um diploma que fica na parede, ou seja, essa noção de que alguém só tem validade por sua carreira. Quando a pedagogia politiza, massas e coletivos se movimentam. Mulheres negras, trans e travestis, indígenas, quilombolas, com deficiência, mães, filhas, líderes e periféricas são humanizadas, a política se faz e acontece. As desigualdades são superadas, o Estado opressor se desfaz, a população vai pra rua, pela intervenção e libertação dos nossos. Queremos ocupar os espaços de poder!

Por fim, queremos que entendam que a forma de se fazer educação no Brasil, para nós – meninas negras, indígenas, quilombolas, faveladas, de periferias, meninas trans, travestis, trabalhadoras rurais, com deficiência, juntas aqui nesse grupo e nos diversos embates – não é uma educação que atende às nossas pluralidades, às nossas mais simples necessidades. “Desfrutamos” de uma educação ilusória, que não chega até nós. Sonhamos com o dia em que desfrutaremos de uma educação de boa qualidade – sem machismo, racismo, LGBTQIA+fobia e capacitismo – que complemente quem somos, que valorize nossas ancestralidades e não nos obrigue a seguir um sistema que com certeza vai apagar a nossa história, que nos molda e nos torna seres inconscientes de quem somos e de por que estamos aqui.

A luta é por uma educação para todas, todes e todos! A educação que conscientiza, que liberta e fortalece todos dentro das suas especificidades!

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EN ESPAÑOL

Somos chicas. Somos negras, somos quilombolas, somos indígenas, somos del campo y de la selva, de las periferias y de las favelas de las ciudades. Somos chicas trans y travestis, somos chicas con discapacidad. Estamos en las escuelas deterioradas y en los transportes abarrotados, estamos en las calles y callejones, en las ocupaciones y marchas, estamos en las redes virtuales y territoriales. Muchas niñas pasan hambre y se enfrentan a la violencia de género en este momento. Llevamos la fuerza de nuestros antepasados y una historia de luchas y resistencia. Somos la generación del presente y también del futuro. Somos guerreras y somos cuidadoras. No estamos calladas, nos han silenciado. No nos callaremos más. Este es nuestro grito.

La educación brasileña pide ayuda, agoniza por la vida, sufre con tantos ataques: desde los recortes de recursos hasta la censura.

La pandemia puso de manifiesto lo que hace tiempo se discute en los movimientos sociales: la masificación de los transportes -cuando los hay-, la falta de acceso a Internet y a los equipos, la miseria que hace que sea en la escuela donde muchos encuentran su única comida, los profesores sobrecargados de trabajo y mal pagados. También subrayó la necesidad de una educación centrada en nuestros orígenes y ancestros africanos, afrobrasileños e indígenas que la colonización nos ha arrebatado.

La educación, tal y como la conocemos hoy, se sostiene gracias a un hilo o a una cadena de manos de personas que todavía creen que es posible construir una educación accesible y plural, aunque estén insertas en esta realidad de constantes recortes y desguaces de estas escuelas. La educación surgió de la lucha de la población. Hemos conquistado este derecho gracias a la lucha y, gracias a la educación, tenemos más gente para seguir luchando. Los guerreros forman la educación y la educación forma a los guerreros.

Cuando decimos escuelas, nos referimos a la educación pública, que educa a los hijos e hijas de las personas trabajadoras, que están en la base y en los márgenes de la sociedad. Muchos de nosotras ni siquiera tenemos acceso a estos espacios públicos de educación. Muchas de nosotras somos expulsadas de las escuelas, violando lo que determina la Constitución y el Estatuto del Niño y del Adolescente (ECA), que garantizan por ley el derecho a la educación para todos. Aquí nos referimos a les travestis y a las mujeres transexuales, a quienes se les niega el acceso a los espacios escolares desde el momento en que pisan la escuela, porque saben que sus identidades serán ignoradas y violadas constantemente. Aquí nos referimos también a las personas con discapacidad, a la niñez negra, indígenas, quilombolas y rurales, a adolescentes y jóvenes y a muchos otros y otras en este país tan desigual.

Tenemos que pensar en la infraestructura de las escuelas secundarias repartidas por todo Brasil. Es sumamente problemática la idea de "lanzar" a jóvenes y adolescentes a estas escuelas que parecen más bien cárceles, rodeadas de rejas y portones gigantes que los segregan unos de otros, donde no se enseña la diversidad de pueblos y culturas, teniendo un currículo eurocéntrico, en detrimento del conocimiento producido en las propias comunidades. ¿Pueden estas escuelas preparar a la juventud para la educación superior y el mundo laboral? ¿Pueden estas escuelas estimular el sentido crítico y la ciudadanía de los/las jóvenes? ¿Es esta realmente la educación que queremos para el presente y el futuro?

Es de suma importancia explicitar qué organismos sufren más en estos entornos. Entre ellos están las trans y travestis, otras personas pertenecientes al movimiento LGBTQIAP+ (especialmente los racializados), los indígenas, los quilombolas, los trabajadores del campo, es decir, todos los colores históricamente marginados.

Las personas con discapacidad están estigmatizadas en nuestra sociedad y hay personas que quieren aumentar aún más la segregación, impidiendo que asistan a las mismas escuelas.

La educación desempeña un papel muy importante para el desarrollo de un país. Queremos otro modelo de desarrollo, que ponga el cuidado de las personas y la naturaleza en primer lugar. Soñar con una educación plural y accesible es fundamental, porque es imposible llegar a algo que no se haya soñado antes. Entre las personas que sueñan con una educación diversa y popular, especialmente para las niñas, cabe destacar a Malala, que defiende incansablemente el derecho de las niñas y las mujeres a estudiar en todo el mundo.

Hay experiencias en otros países que pueden inspirarnos, al igual que en nuestro país. Podemos aprender de la lucha de las poblaciones indígenas y quilombolas por el derecho a una educación escolar diferenciada, que respete sus formas de vida, su concepción de la educación como un proceso que se da en las relaciones comunitarias y en el vínculo con los territorios. Sin embargo, estas escuelas sufren unas condiciones de funcionamiento cada vez más precarias.

Es sumamente importante que la escuela pública, siendo un gran pilar para el sistema educativo, sea una prioridad "de verdad" para el Estado y para la sociedad. No sólo garantizando la enseñanza de las materias, sino también la calidad de esta enseñanza.

Las personas con discapacidad están estigmatizadas en nuestra sociedad y hay gente que quiere segregarlas aún más impidiéndoles asistir a las mismas escuelas.

La educación desempeña un papel muy importante en el desarrollo de un país. Queremos otro modelo de desarrollo, que ponga el cuidado de las personas y la naturaleza en primer lugar. Soñar con una educación plural y accesible es fundamental, porque es imposible llegar a algo que no se haya soñado antes. Entre las personas que sueñan con una educación diversa y popular, especialmente para las niñas, cabe destacar a Malala, que defiende incansablemente el derecho de las niñas y las mujeres a estudiar en todo el mundo.

Hay experiencias en otros países que pueden inspirarnos, al igual que en nuestro país. Podemos aprender de la lucha de las poblaciones indígenas y quilombolas por el derecho a una educación escolar diferenciada, que respete sus formas de vida, su concepción de la educación como un proceso que se da en las relaciones comunitarias y en el vínculo con los territorios. Sin embargo, estas escuelas sufren unas condiciones de funcionamiento cada vez más precarias.

Es sumamente importante que la escuela pública, siendo un gran pilar para el sistema educativo, sea una prioridad "de verdad" para el Estado y para la sociedad. No sólo garantizando la enseñanza de las materias, sino también la calidad de esta enseñanza. Hay que educar al propio sistema educativo para que piense en lo social. Confunden la educación con la escolarización y la calidad de la enseñanza con simples pruebas de aprendizaje: no quieren crear pensadores, sino máquinas de trabajo; matan los sueños de sus alumnos para alimentar una sociedad donde el mercado dicta las reglas del "juego". Estamos viviendo una profunda crisis, eso es innegable. Los retrocesos autoritarios que estamos viviendo con la implementación del nuevo bachillerato, los recortes en la educación, la deserción escolar y los impactos de la pandemia y la violencia contra la población negra, indígena y pobre, todo esto contribuye a que más jóvenes y niños sufran y pierdan la motivación y la esperanza, viendo atropellados sus sueños.

Por eso tenemos que actuar. Si queremos cambiar Brasil, ¡que empiece por la educación!

Queremos una educación plural que vaya de la mano de profesores, que se les valore, que pague salarios dignos. Queremos igualdad salarial para profesores indígenas y quilombolas que reciben menos aunque tengan la misma formación. Que las escuelas del campo, de los bosques y de las periferias tengan toda la estructura, los materiales de apoyo, la dignidad y la calidad de la enseñanza. Que la educación sea liberadora, con múltiples formas de enseñanza y aprendizaje, que escuche activamente a los alumnos en su diversidad de sufrimientos, propuestas y sueños.

Queremos una educación antirracista, anticapacitista, antimachista y anti-LGBTQIA+fóbica, destacando la necesidad de poner fin al gigantesco sufrimiento impuesto a las personas transgénero y travestis. Que enseñe sin prejuicios ni estereotipos la historia y la cultura de los pueblos indígenas y afrobrasileños, en cumplimiento de la Ley de Directrices y Bases de la Educación Nacional modificada por las Leyes 10.639/2003 y 11.645/2008. Que apoye a las madres estudiantes, teniendo en cuenta que la falta de apoyo y comprensión hace que las adolescentes y jóvenes que se quedan embarazadas abandonen la escuela. Garantizar el bienestar de los alumnos en la escuela y en el camino a la misma. Que prepare a estudiantes para la vida adulta y la educación superior, que la escuela pueda adaptarse a diferentes realidades. Que fortalezca las universidades públicas y amplíe los cupos y las políticas de acción afirmativa, garantizando condiciones efectivas para la permanencia de estudiantes negros/as, indígenas, quilombolas, discapacitados/as, periféricos/as, rurales, trans y travestis en la educación superior.

Defendemos una educación que incluya y no excluya. Las personas con discapacidad no "estorban", como dicen algunos. Una educación inclusiva, que presta atención a las especificidades de cada uno sin excluir a nadie, beneficia a todos. La educación inclusiva implica accesibilidad, recursos materiales y tecnológicos, pero también la superación de prejuicios y la capacitación de moldes incapaces de percibir el potencial de cada alumno. Y es así, con este sistema, que podemos crear una sociedad mejor y, en consecuencia, un Brasil mejor.

"La educación no cambia el mundo. La educación cambia a las personas. La gente cambia el mundo". Paulo Freire, patrón de la educación brasileña

¿Qué debe ser prioritario en el país para hacer efectivo el derecho a una educación de calidad?



El debate sobre la educación parece a menudo invertido. En general, tenemos una política educativa que se somete al dinero "disponible", siempre insuficiente. Históricamente, el dinero del pueblo se drena para las élites. Pero deberíamos empezar por preguntarnos: ¿Qué educación queremos (y necesitamos) construir y para quién? A partir de ahí, hay que definir los recursos necesarios -que existen- y que se distribuyan de forma que enfrenten las desigualdades, es decir, que lleguen más donde siempre han llegado menos -el caso de las escuelas indígenas, las quilombolas, las escuelas de las periferias urbanas y rurales- y, de esta forma, reparar parte de la deuda histórica del Estado brasileño con sus poblaciones más violentadas y oprimidas.

La práctica de la educación que tenemos sigue privilegiando a los mismos de siempre, desde la colonización. Frente a tantos problemas y desafíos, la juventud feminista, negra, indígena, quilombola, periférica y rural, LGBTQIAP+ y discapacitada se une para ocupar las universidades y escuelas todos los días, para pintar la educación del pueblo. Nuestras luchas son plurales por una educación democrática y participativa que sirva para la emancipación de nuestro pueblo, de las niñas y mujeres dispersas por nuestro país. Esta ocupación reúne al pueblo y a la comunidad para ocupar juntos el lugar de estudio y tener derecho a soñar y a realizar.

¡Necesitamos movernos!

Tenemos que empezar a mirar a nuestro pueblo como un camino hacia la construcción de políticas públicas efectivas que rompan la opresión del elitismo y la blancura que aún nos rodea. Quienes deciden la educación de nuestro país son hombres, blancos, heterosexuales, cis y ricos, que ni siquiera han experimentado la precaria situación de la educación pública. El futuro que planean es seguir privilegiando sólo a ellos. Pero la educación es PÚBLICA y tenemos nuestro derecho a ser médicos. Tenemos que movernos y preguntarnos: ¿Qué estamos haciendo por el presente de las niñas? Niñas negras, indígenas, quilombolas, LGBTQIAP+, trans y travestis, con discapacidad, periféricas y rurales, para que podamos construir un futuro en femenino.

¿La educación que construyen es para quién?

Para hacer realidad el derecho a una educación de calidad tenemos que romper el modelo de "reformas" que vienen de arriba abajo. Necesitamos transformar las reformas estatales en una intervención popular, que no sólo forme trabajadores rehenes de la explotación capitalista, sino pensadores críticos, que no reduzcan su potencial a una simple profesión "bien pagada". Que los estudios alimenten una dignidad sin depender de un diploma que cuelgue de la pared, es decir, esa noción de que alguien sólo es válido por su carrera. Cuando la pedagogía se politiza, las masas y los colectivos se mueven. Se humaniza a las mujeres negras, trans y travestis, a las indígenas, a las quilombolas, a las discapacitadas, a las madres, a las hijas, a las líderes y a las mujeres de la periferia, y se hace y sucede la política. Se superan las desigualdades, se deshace el Estado opresor, la población sale a la calle, para la intervención y liberación de los nuestros. ¡Queremos ocupar los espacios de poder!

Por último, queremos que entiendan que la forma en que se hace la educación en Brasil, para nosotras -negras, indígenas, quilombolas, chicas de la favela y de la periferia, chicas trans, travestis, trabajadoras rurales, con discapacidades, juntas aquí en este grupo y en los diversos enfrentamientos- no es una educación que responda a nuestras pluralidades, a nuestras necesidades más simples. "Disfrutamos" de una educación ilusoria, que no nos llega. Soñamos con el día en que disfrutemos de una educación de buena calidad -sin machismo, racismo, LGBTQIA+fobia y empoderamiento- que complemente lo que somos, que valore nuestras ancestralidades y no nos obligue a seguir un sistema que seguramente borrará nuestra historia, que nos moldea y nos convierte en seres inconscientes de quiénes somos y por qué estamos aquí.

La lucha es por una educación para todos, ¡todos y todas! ¡La educación que sensibiliza, que libera y fortalece a cada uno dentro de sus especificidades!

Fuente: https://generoeeducacao.org.br/mude-sua-escola/manifesto-meninasdecidem/

Traducción: Con Efe

Claudia Florentin